A tarifa é de primeiro mundo, mas o serviço não chega a tanto. Às vezes, nem alcança o destino e é preciso socorro para se desembarcar no Rio ou em Niterói. Apesar do pesadelo dos cerca de 95 mil passageiros que se valem diariamente da travessia marítima entre as duas cidades, os preços cobrados pela CCR Barcas são compatíveis com serviços de sonho como os do East River, em Nova York, ou da Baía de Nápoles, na Itália. Aqui, quem sai do Rio paga R$ 0,90 por quilômetro para a Praça Araribóia — considerando-se o valor de R$ 4,50 para a tarifa em dinheiro — e R$ 1,47 nos catamarãs seletivos para Charitas.
Em Nova York, a linha que liga Wall Street — sala de estar do capitalismo mundial e sede da principal bolsa de valores do planeta — à Rua 34, passando pela cidade de Long Island, custa R$ 0,57 por quilômetro para quem dispõe do passe mensal, que dá direito a viagens ilimitadas. Na Itália, esse custo varia de R$ 0,68 a R$ 1,30 na viagem de Nápoles à Ilha de Capri — uma das mais famosas da Europa.
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Tarifa das Barcas fica a frente de Nápolis, uma das travessias mais bonitas da Europa. |
Se a comparação for brasileira, a disparidade dos preços da CCR Barcas é ainda mais assombrosa. A viagem de Belém ao Arquipélago de Marajó, no Pará, é 16,6 vezes mais longa, mas sai por R$ 0,19 por quilômetro ou a R$ 0,26, com ar-condicionado.
— Isso só mostra o que já sabemos: as barcas são o meio de transporte mais caro do Rio e eles ainda reclamam de serem deficitários — critica o deputado Gilberto Palmares (PT), presidente da comissão especial das barcas, na Assembleia Legislativa.
Em nota, a CCR Barcas rejeita a comparação “baseada apenas nas informações de distância percorrida e valor da tarifa”. A empresa alega ser “necessário conhecer os detalhes dos contratos, se há subsídio aos passageiros dessas linhas (usual em empresas públicas), se as empresas fazem jus a outros tipos de receitas, quais são os encargos da operação, etc”.